O MELHOR DO BRASIL É O BRASILEIRO, INCLUSIVE NO EXTERIOR

O melhor do Brasil é o brasileiro, inclusive no exterior. O que nos falta é conhecê-lo

 Por Aloysio Vasconcellos, chairman da Brazil International Foundation*

 Existe um “Brazil” fora do Brasil, uma população que reunida resulta num número superior à da terceira maior cidade do país, Brasília (DF). Trata-se de uma comunidade de nada menos do que 3,5 milhões de habitantes com nível educacional acima da média nacional e renda também superior. Segundo o estudo Projeto Mapeamento, Conselho de Cidadãos Brasileiros na Flórida (2014), esse brasileiro residente no exterior fala entre dois a três idiomas, além de portador de ética profissional e pessoal próprias dos países em que vivem.

São também pessoas que respondem pelo envio de cerca de US$ 6 bilhões ao Brasil anualmente – segundo dados mais recentes, mas não oficiais –, representando mais para o país em termos de geração de divisas do que diversos segmentos exportadores, a exemplo do tradicional setor cafeeiro, que exportou em torno de US$ 4 bilhões em 2017. Portanto, ignorá-las é como dar as costas ao próprio país.

Ainda neste tópico, vale ressaltar que, de acordo com um documento elaborado pela OIM (Organização Internacional para as Migrações) e o Ministério do Trabalho e Emprego, em 2010, “o Brasil é o segundo maior receptor de remessas da América Latina, atrás somente do México, com valores que ultrapassam US$ 5 bilhões anuais”.

Tal volume de remessas, no âmbito do Brasil, representa  ao redor  de 1% do Produto Interno Bruto (PIB). Para efeito de comparação, vale mencionar que a indústria automotiva nacional representa cerca de 2% do PIB, segundo levantamento divulgado pela Tendências Consultoria.

Os dados citados sobre emigrantes brasileiros são as poucas informações que sabemos sobre esse grupo de pessoas que deixou o país (fisicamente apenas) em busca de oportunidades em outras partes do mundo, como Estados Unidos, países da Europa, Japão, Paraguai, entre tantos lugares que abrigam nossa população emigrada.

Já está em tempo de sabermos mais sobre essa população, atuarmos com políticas públicas para torná-la fonte de negócios para o país, além de propagar nossa cultura ao redor do mundo, qualificando, inclusive, o conceito que se tem sobre as limitações do Brasil.

Historicamente…

Voltando no tempo, o movimento de emigração de brasileiros teve início, de forma mais consistente, na década de 80, mas foi a partir dos anos 90, com o fracasso do Plano Collor, que houve a intensificação da mudança de brasileiros para outros países de forma definitiva.

Hoje, fruto dessa comunidade emigrada, já temos a segunda e a terceira gerações de brasileiros nascidos no exterior, alguns dos quais, apesar de brasileiros natos – e propriamente registrados –, sequer falam português, mas mantêm uma forte ligação cultural com o país pelos hábitos familiares e força das relações entre os próprios membros da comunidade nacional no exterior.

De novo, a partir de 2012, uma nova onda de emigração tomou corpo no país, agora na forma de pessoas altamente intelectualizadas, os chamados “cérebros”, que partem rumo a outros países pela fragilidade tamanha das políticas pública, de segurança, econômica e a instabilidade política que ronda o Brasil. Só em 2017, foram mais de 26 mil brasileiros que comunicaram sua mudança definitiva para o exterior, segundo levantamento divulgado pela Receita Federal e JBJ Partners.

Considerado todo esse contexto, vejo que podemos avaliar a situação não sob um ponto de vista de catástrofe do Brasil – que está perdendo suas pessoas com maior condição de agregar valor à nação –, mas por outro (que vejo e acredito, pois em linha com as modernas análises emigratórias) que é a oportunidade que essa comunidade brasileira no exterior representa para nosso país.

Eles, os antigos e novos emigrados, são geradores de negócios, empresários, pesquisadores, pessoas que acrescentam valor à economia local dos países para os quais se mudam. Eles, frequentemente, são bem-sucedidos, podendo atuar como vetores de negócios estrangeiros no Brasil, o que resultaria em geração de empregos nacional, através de investimentos direcionados, no comércio, indústria – ou até especulativos.

É preciso conhecer para avançar

O que falta, em minha avaliação como fundador da Brazil International Foundation, que existe desde 2013, e possui representação no Japão, Brasil e Europa, em parceria com sua subsidiária, o BBG (Brazilian Business Group), são os tais estudos sobre essa emigração que acontece num mundo globalizado, esse fluxo de pessoas. Entendermos e planejarmos atuações eficientes e objetivas, a partir desta riqueza de posicionamento, é um real desafio.

No caso dos Estados Unidos e do Brasil, penso que faltam organizações, sejam elas privadas e/ou de Estado, para planejar e estruturar as ações que viabilizem esse trânsito e troca de informações e ações comerciais que irão beneficiar o Brasil.

Também vale mencionar, de acordo com minha experiência na relação com as comunidades brasileiras no exterior, que, nos Estados Unidos e na Europa, as comunidades brasileiras vivem em clusters. Somos fechados como comunidade, seguindo valores paternalistas e conservadores que trazemos da cultura brasileira, o que seria bom mudar para o próprio bem das pessoas e suas empreitadas no exterior.

Em especial na Europa, há uma concentração grande de artistas de todas as áreas, uma vez que o Brasil não incentiva essa indústria, e nem a própria sociedade valoriza. Entretanto, apenas a título de exemplo – porque isso ocorre com outros segmentos –, falta-nos uma visão de negócio para esses profissionais, o que é fruto da nossa cultura que valoriza mais o relacionamento do que a competitividade pela meritocracia.

Além disso, o que percebo – e talvez seja esse o fator mais relevante desta discussão que estou propondo – é que essa comunidade fora do Brasil, que ganha maior expressão a cada dia, pode trazer uma relevante contribuição na representação do Brasil no exterior.

Definitivamente, precisamos estudá-la, conhecê-la melhor e criar as oportunidades para otimizar políticas públicas que valorizem essa presença brasileira no exterior, por meio de seus cidadãos. Temos algumas ideias do potencial dessa comunidade, mas é ilimitado o quanto pode agregar ao país.

O melhor do Brasil sempre foi – e sempre será – o brasileiro! 

* Aloysio Vasconcelos é formado em Direito e Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil; possui MBA pela Thunderbird School of Global Management, USA; e Pós Graduação em Comércio Internacional na Universidade de Paris–Sorbonne, França. Membro da Ordem dos Advogados Latino Americanos, Washington, D.C., USA e da Ordem dos Advogados do Brasil – Seção Rio de Janeiro, foi Vice Presidente do Citibank N.A.- Brasil / EUA, tendo atuado no departamento legal, corporativo e Private Bank; consultor legal e financeiro da Embratel, do CASNAV- Estado-Maior da Armada, da Esso Brasileira de Petróleo e da Xerox Corporation-Departamento Latino Americano em Stamford, Connecticut, USA; Chairman do Westchester Financial Group, Flórida, USA.  Em 2013, fundou a Brazilian Internacional Foundation (www.brazilinternationalfoundation.com), cuja missão é assistir as comunidades brasileiras no exterior, organizando-as no sentido de elevarem-se e competirem, no mínimo em igualdade, com seus anfitriões, assim melhor integrando-se nas sociedades que as hospedam, porém sempre mantendo laços fortes com suas raízes e origens brasileiras.

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