EMPREENDEDORISMO COMO INSTRUMENTO DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO, POLÍTICO E CULTURAL

Empreendedorismo, na sua definição mais simples é a arte de empreender, praticar, propor-se a execuções, tentar levar a cabo iniciativas e propostas viáveis, baseadas numa visão lógica e ampla, de alguma forma inovando sobre sistemas, atividades e coisas, não se detendo diante dos obstáculos que se apresentam, os quais não são limites à audácia e perspicácia dos empreendedores.

Ênfase é dada às transformações praticadas pelo Homem que alteram e modificam, não necessariamente inventando, aquilo que nos rodeia, na realidade, diferenciando o que existe e que por todos é visto e observado, mas que com algumas transformações trazem benefícios à sociedade, e/ou aos consumidores em geral, seja em termos de preço ou qualidade.

O processo do empreendedorismo pode visar benefícios de pequena escala, que satisfazem a um indivíduo e sua família, até participações que beneficiem massas humanas em grande escala. De uma forma simplificada, uma cereja num sorvete pode ser a diferenciação necessária para um aumento de vendas numa pequena loja, com positivo impacto sobre a vida do empreendedor.

E é ai que reside, em grande parte, a compreensão do conceito. Não basta ter coragem de realizar o que poderíamos chamar de “alguma coisa diferente”, mas sim transformar o que já existe, racional e estruturadamente, usando as condições existentes e transformando-as em benefício à comunidade. Para este processamento estruturado, não basta o acesso à simples informação do que existe ou deixa de existir. Idéias não surgem apenas do imaginário. Um visionário simples, “cheio de ideias”, as quais não são revestidas da necessária praticidade ou viabilidade, não possui os ingredientes básicos ao atingimento de resultados e objetivos que levem ao sucesso das atividades humanas.

Até onde sabemos, as impulsões bem sucedidas resultam de esforços pessoais e/ou financeiros, diretamente envolvendo os empreendedores, que ao vislumbrar oportunidades, às mesmas se dedicam e se lançam de forma decisiva e/ou através de apoios de terceiros, muitas vezes empresas ou grupos de investidores especializados em bancar e auxiliar na administração das inovações que levam ao sucesso.

Usando palavras de Einstein, que não era empresário, mas um físico e pensador, a Imaginação é mais importante que a Informação. E quando falou Einstein, não havia google ou similares. Hoje, vemos uma rica difusão da informação, mas que muitas vezes chega a ouvidos não preparados para assimilá-las, o que leva a um pobre manuseio da mesma. Se considerarmos que é a partir da imaginação e sua assimilação que vem o importante momento da estruturação, quando ocorre a maturação do projeto, somos forçados a reconhecer, aplaudir e enfatizar a importância da educação e do treinamento para a  melhor compreensão, detalhamento e planejamento de qualquer iniciativa.

Em outras palavras, é da educação, sua vivência e boas condições gerais de vida que surgem as observações e a estruturação daquilo que percebemos e avaliamos como importante para o uso geral. A coragem e ímpetos à luta são ingredientes positivos, mas por si só não irão, por via de regra, levar ao sucesso e, principalmente, motivar terceiros capazes de emprestar seus esforços profissionais e sofisticados que o assegurarão.

Assim, as observações não são fruto apenas de sensibilidade ou rotinas comportadas, ditadas pelo status quo das sociedades em que estamos inseridos. Copiar apenas não nos leva muito longe, pois logo seremos absorvidos e ultrapassados. Há que se ter personalidade e força interior que motivem cada um de nós a nos superarmos e competirmos, em igualdade de condições, ou até superiormente, aos nossos anfitriões. Brasileiros não nasceram apenas para sobreviver, mas sim e principalmente, para vencer. Por isto escolhemos emigrar para as principais sociedades do mundo; somos hoje 3,5 milhões principalmente espalhados pela Europa, America do Norte e Japão. E não estamos aqui apenas para servir, mas para participar e contribuir. Temos muito para trocar e oferecer. A brasilidade que portamos, mescla de várias culturas e conhecimentos, inata em cada um de nós, é moeda diferenciada neste mundo globalizado, competitivo e sofisticado em que vivemos. E para a plena conquista dos objetivos almejados temos que estar:

  • Cientes de quem somos e de onde viemos,
  • O que queremos, realmente, atingir nesta epopéia que realizamos,
  • Nos prepararmos para os desafios, sempre abertos à educação e à disciplina, tão importantes para uma efetiva competição em território estrangeiro,
  • Organizarmo-nos em todos os níveis, econômico-político e cultural, de forma que possamos contribuir para as sociedades que nos recebem, bem como usufruir daquilo que melhor têm, pois somos igualitários nesta troca que a todos beneficiará.

Neste ponto, e antes de entrarmos na apresentação e eventual discussão de uma proposta de posicionamento comunitário vis-à-vis às sociedades que nos acolhem, deixamos claro nosso entendimento de que:

(1) apenas com reforço educacional e abertura ao treinamento profissional estaremos aptos e em condições de promover e disputar espaços de qualidade no seio das sociedades que nos acolhem, em qualquer lugar do mundo;

(2) o exercício de atividades comunitárias, associativas, buscando troca de informações e experiências, diferentemente do não praticado no Brasil, são fundamentais na estruturação e fortalecimento de homens e mulheres modernos, aptos à competição em qualquer parte do mundo e ,

(3) a consciência de que, ao deixarmos nosso país de origem, buscando melhor alternativa de vida em terras estrangeiras, já estamos num processo de empreendedorismo.

A  EXPERIÊNCIA  DO GRUPO DA BRAZIL INTERNATIONAL FOUNDATION NO SUL DA FLÓRIDA:

O que ora empreendemos é uma experiência diferenciada, iniciada há onze  anos, com participação ativa e direcionada, quando reunimos, inicialmente sob o nome  de Brazilian Business Group / BBG ( esta hoje uma de nossas unidades ), voluntários brasileiros, que se comprometeram em dedicar-se de forma independente e laica ao desenvolvimento da vida e atividades dos empresários brasileiros e suas famílias, radicados no Sul da Florida, em especial  nos Condados de Palm Beach e Broward. Para quem conhece a região, áreas proximas de Boca Raton e Fort Lauderdale, uns 80 kilometros ao norte de Miami.

Recebido com ceticismo, haja vista a condição laica da entidade e seu espírito voluntário, novidades até então dentre outras entidades ditas tradicionais, o BBG cresceu, passando a contar com 120 membros em seus quadros, além de muitos outros  frequentadores de nossas reuniões, pagantes diferenciados, mas não membros engajados com nosso processo.

Inicialmente observamos o modelo tradicional de agremiação brasileira na região, muitas de origem religiosa, preocupadas com o bem estar espiritual e ênfase no bom comportamento social, e outras sem foco definido, especializando-se na promoção de encontros e festas, todas evidentemente bem intencionadas, mas sem a objetividade requerida pelos tempos, contracenando com um futuro incerto, dadas as grandes dificuldades político-sociais que as comunidades enfrentam.

A inadequação daí advinda dificultava a integração à sociedade maior, onde estão guardados os grandes prêmios, que justificam os esforços dispensados nos anos iniciais de luta e sacrifício por que todos passaram.

Decidimos, então, nos atrever ao mapeamento do esforço comunitário. Primeiro, usando fundos arrecadados entre voluntários, encomendamos o primeiro Censo brasileiro na região. Desta forma, aprendemos sobremaneira sobre o comportamento de nossos compatriotas, nível educacional e renda, além de outros.

 Hoje, mais confiantes, sentimos haver atingido um estágio especial, daí estarmos estruturando uma visão que sempre nos acometeu, mas cujo momento ideal para deslanchar estávamos aguardando e que, temos certeza, poderá também ser experimentada em outras comunidades: a de implantarmos e desenvolvermos centros brasileiros de negócios nas principais comunidades brasileiras no exterior, assim aproveitando-se de mão de obra qualificada presente, bem como elevando a renda individual e familiar destes pedaços de Brasil espalhados pelo mundo. A semente não se inicia e acaba com a primeira geração de emigrantes, mas assegura posicionamento diferenciado e necessário das comunidades, detentoras que serão dos valores e lógica brasileira (brasilidade) tão importante para aqueles que com o Brasil transacionam.

E tal, igualmente, aplica-se às facilidades que uma estratégia deste quilate poderá beneficiar empresas brasileiras vindo para o exterior, assim como as estrangeiras que ao Brasil pensam dirigir-se, já que nos bolsões brasileiros irão encontrar mão-de-obra sofisticada, bilíngüe, eivada da ética de trabalho de países do Primeiro Mundo, porém portadores de fortes raízes culturais brasileiras.

Neste projeto, assim como nos que já implementamos, não buscaremos recursos e apoio apenas naquilo que o Brasil e seu governo nos poderão, talvez, destinar, mas igual e principalmente aos

governos locais e empresas interessadas em atividades comerciais, financeiras e industriais com o Brasil. Tudo em consonância com nossos princípios e valores, como entidade, sem medo ou receio, em terras estrangeiras, porém nunca nos esquecendo de fortalecer nossas raízes brasileiras.

COMENTÁRIOS GERAIS :

  • O projeto de emigração brasileiro é um exemplo singular de empreendedorismo internacional. Compreendê-lo e implementá-lo é um dever de cada emigrante, na medida que o sucesso individual passa pelo coletivo. Conscientemente ou não, somos parte integrante da maior expansão brasileira em terras estrangeiras em toda sua história;
  • O esforço brasileiro no exterior, talvez por sua modernidade, é de difícil assimilação por seu povo e autoridades. O Brasil Internacional, com seus 3.500.000 habitantes é uma gigantesca cidade virtual brasileira, unida pela mídia social, nossa língua e cultura. Estatisticamente constituímos a terceira cidade do país em população e, provavelmente, a mais rica  em avaliação per capita. No entanto, sua contribuição ao país, em termos financeiros e sociológicos é desconhecida e seu potencial, nunca lembrado;
  • A continuação e sucesso do projeto passam por maior divulgação e conscientização do que somos e representamos, nacional e internacionalmente;
  • A integração nas sociedades locais, que nos acolhem, sob o ponto de vista economico-politico e cultural deve ser incentivado. Novas gerações brasileiras, portadores de dupla cultura e nacionalidade, mas com fortes raízes brasileiras, somente diferenciarão, para melhor, nossa presença, fortalecendo-a .

CONCLUSÃO :

O sucesso não passa apenas pelo reconhecimento, entendimento e boa vontade das autoridades brasileiras. Como um grupo, podemos e devemos nos destacar, independentemente, pois para tal temos todas as condições;

A inserção altiva e independente nas sociedades que nos acolhem, de forma planejada e participativa, elevará nossa visibilidade ao nível de participantes especiais;

O fomento de atividades comerciais e culturais entre as comunidades no exterior e o Brasil ampliará nossa visibilidade e importância como agentes de desenvolvimento.

Organizados, motivados e disciplinados podemos desempenhar papel único no projeto de desenvolvimento internacional do Brasil, com direto impacto nas condições gerais de vida de todos imigrantes   e de suas famílias, no exterior ou no solo natal.

Aloysio Vasconcellos  Chairman Brazil Internatonal Foundation

Escrito em 2012; revisto 2018.

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